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18 de agosto de 2014

Traduzir-se

"Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
– que é uma questão
de vida ou morte –
será  arte?

Ouçamos a mensagem poética na voz de Adriana Calcanhoto


Fonte

GULLAR, Ferreira. Traduzir-se. Educatrix. São Paulo, nº6, p. 40 1º Semestre. 2014.